O navegador português Vasco da Gama começou a ganhar destaque na Era dos Descobrimentos, quando portugueses, espanhóis e outros povos passaram a explorar o globo terrestre em busca de novas rotas de comércio. Foi comandante nos primeiros navios que saíram da Europa rumo às Índias, na mais longa viagem oceânica realizada até então.

Em meio às celebrações do IV Centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para as Índias, do outro lado do mundo (mais precisamente no Rio de Janeiro), um grupo de 62 rapazes, em sua maioria portugueses, decidiu fundar um clube cujo nome homenagearia o grande herói da navegação. Era 21 de agosto de 1898, e os rapazes se reuniram para criar uma associação voltada para a prática do remo. O nome: Club de Regatas Vasco da Gama.

Assim como o navegador português, o clube seria pioneiro em muitos momentos que posteriormente viraram história. Em uma época em que o racismo era prática comum no esporte, foi eleito no Vasco o primeiro presidente não branco dos clubes do Brasil. Em 1904, o afro-descendente Cândido José de Araújo foi alçado ao posto mais alto do clube, cargo que ocupou entre agosto de 1904 e meados de 1906.

O futebol começou a ganhar espaço no Vasco somente em 1915. Vencedores no remo, os integrantes do clube queriam expandir sua atuação. O futebol foi a primeira e maior aposta. No dia 26 de novembro de 1915, os vascaínos se juntaram ao Luzitânia, outro time da colônia portuguesa – mas dedicado somente ao futebol – para seu primeiro campeonato.

Em pouco tempo, o futebol tornou-se a maior estrela do clube, que rapidamente passou a fazer parte da elite do futebol nacional. Em 1923, o time que ficaria conhecido como o dos “camisas negras” fez uma campanha irretocável, levando ao clube o primeiro título de campeão carioca de sua história.

De lá para cá, foram inúmeras glórias, goleadas e alegrias. Do primeiro gol olímpico marcado no Brasil (feito do jogador Santana, em março de 1928), à conquista da Libertadores da América em 1998, passando pelo primeiro título internacional conquistado por um clube brasileiro no exterior (o Vasco foi campeão dos campeões sul-americanos em1948), e pelas muitas conquistas estaduais e nacionais – o Vasco foi o primeiro time carioca a ser campeão brasileiro, em 1974.

Entre os craques que surgiram da base do Gigante da Colina, Carlos Roberto de Oliveira, o Roberto Dinamite, escalado pela primeira vez aos 17 anos, em 1971; Romário, que estreou como jogador profissional pelo Vasco em 1985; e uma das mais importantes jogadoras do futebol feminino de todos os tempos: Marta.

Em 2007, uma nova lei estadual determinou que o dia 21 de agosto seria o Dia do Vasco. Se os vascaínos já colecionavam motivos de sobra para comemorar, a partir de então ganharam um dia especial para isso.

Inaugurado em 21 de abril de 1927, o estádio de São Januário foi o maior estádio da América Latina até os anos 1930, quando perdeu o posto para o Centenário em Montevidéu, no Uruguai. No Brasil, continuou sendo o maior do país até 1940, ano da construção do Pacaembu, em São Paulo.

O tempo de sua construção foi recorde. O São Januário, batizado em homenagem a uma das ruas que dá acesso ao local, ficou pronto em 11 meses. Todos os vascaínos se mobilizaram para erguer a gloriosa casa própria, contribuindo com doações de material e de trabalho. A soma dessa mobilização é grandiosa, como o estádio e sua história: por meio de doações, o clube recebeu 6.600 barris de cimento e 252 toneladas de ferro.

Uma das atrações da casa vascaína é a sua fachada, feita em estilo arquitetônico neocolonial, bastante utilizado na década de 1920, e tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Talvez por isso, ou pelo coração vascaíno, o ex-presidente Getúlio Vargas utilizava bastante o São Januário para falar ao povo brasileiro. Foi de lá que ele anunciou as primeiras leis trabalhistas do Brasil. E é lá que o Vasco joga seu futebol e reúne sua fanática torcida.