Que o futebol desperta paixões e é certamente um esporte de emoções é uma verdade que ninguém contesta. A intensidade com que os jogos são disputados, muitas vezes beira à violência. Na arquibancada, os torcedores fazem juras de ódio aos rivais e prometem dar a vida pelo seu clube ou seleção. Há insultos, desabafos e ameaças, mas normalmente tudo termina depois do apito final do árbitro.
Não foi o que aconteceu entre Honduras e El Salvador, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970. Após três partidas, tensas, com provocações, brigas de torcida e até mortes, os dois países entraram num conflito armado.
A história dos dois países já revelava muitas tensões, por questões territoriais, entre outros motivos, mas o estopim de tudo foi um jogo de futebol. Em 14 de julho, menos de um mês depois do último jogo, os aviões da força aérea salvadorenha entraram no espaço aéreo de Honduras, começando a guerra.
Em poucos dias, cerca de duas mil pessoas tinham perdido a vida. A destruição causada pelos combates e bombardeios era evidente, especialmente no lado hondurenho. Os refugiados deixavam um rastro de tristeza e pobreza.
Muitos hondurenhos e salvadorenhos não percebiam a razão porque tinham pegado em armas. Para a memória futura ficou a incerteza geopolítica, uma inimizade que décadas depois ainda não se acabou completamente, e a certeza de que as emoções que o futebol gera, quando mal canalizadas, podem ter os mais terríveis resultados.
Texto: Felipe Mendonça
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